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sábado, 20 de novembro de 2010

Solenidade de Cristo Rei (Ano C)

 

fotos 197

 

2Sm 5,1-3
Sl 121
Cl 1,12-20
Lc 23,35-43

É este o último Domingo do Ano da Igreja. Na corrida, na fiada de dias iniciada no Advento do ano passado, contemplamos o Cristo que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na cruz, morreu e ressuscitou, dando-nos de modo definitivo o seu Espírito Santo. Pois bem: depois de termos contemplado todo este mistério, chegamos ao fim e proclamamos o Senhor Jesus como Reino do Universo. Como afirma o Apocalipse, “Jesus Cristo fez de nós um reino e sacerdotes para Deus, seu Pai. A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos!”

Mas, que significa afirmar esta realeza de Cristo Jesus? Pensando bem, é um título problemático, esse dado ao Senhor… Ele é Rei mesmo? Rei do quê? Rei num mundo que o rejeita, Rei de um Ocidente que cada vez mais lhe volta as costas? Rei de uma humanidade de coração fechado para o seu senhorio? Não seria mais lógico, mais realista afirmar que os reis de hoje são os Ronaldinhos, o Paulo Coelho, o Bush e os heróis de plantão? Será que celebrar o Senhor Jesus com este título portentoso, “Rei do Universo”, não é mais uma prova de que os cristãos estão delirando, apegados a um passado glorioso, quando a sociedade era cristã e a Igreja tinha poder?

Quando os cristãos confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana, cristã ou não-cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518).

No entanto, é necessário compreender a natureza do reinado de Jesus. A Liturgia de hoje coloca como antífona de entrada do Missal romano uma frase do Apocalipse que é surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos!” Frase surpreendente, sim! Quem é Aquele que proclamamos Rei? O Cordeiro; e Cordeiro imolado. Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade… Nosso Rei não é aquele que faz e acontece, aquele que passa por cima feito trator… Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na cruz, Aquele que foi imolado pelo Pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta seu Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus preceitos, calunia sua Igreja… Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou sozinho, é o homem de dores prenunciado por Isaías. No Evangelho escutamos que zombaram e zombam dele: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35.39)

Não! Decididamente, Jesus não é Rei nos moldes dos reis da terra. Não podemos imaginar os reis, presidentes e manda-chuvas deste mundo, para depois enquadrar Cristo nesses modelos. O reinado de Cristo somente pode ser compreendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando vida e entregando a própria vida. Tão diferente dos reis da terra, dos políticos e líderes de ontem de hoje: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vos não será assim…” (Mc 10,42s). Cristo é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós, é Rei porque tomou nossa vida sobre seus ombros, é Rei porque passou entre nós servindo, até o maior serviço: entregar-se totalmente na cruz. É rei porque, agora, no céu, Deus e homem verdadeiro, é Cabeça e Princípio de uma nova criação, de uma nova humanidade, de uma nova história, que se consumará na plenitude final. A festa de Cristo Rei recorda-nos uma outra: a do Domingo de Ramos, quando, com palmas nas mãos, cantamos o reinado de Cristo, que entrava em Jerusalém num burrico – animal de carga de serviço – para ser coroado de espinhos, morrer e ressuscitar.

Tudo isto nos coloca em crise, pois este Rei-Messias olha para nós, cristãos, seus discípulos, e nos convida a segui-lo por esse caminho: não o da glória, mas da humildade; não o do sucesso a qualquer custo, mas da fidelidade a todo preço; não o das honras, mas do serviço; não o da imposição, mas da proposta humilde. Quantas vezes os cristãos pensaram o reinado de Cristo de modo demasiado humano, quantas vezes a Igreja pensou que o Reino do Senhor estava mais presente quando ela era honrada, reverenciada, presente nos corredores dos palácios ou nos palanques dos grandes do mundo… Quantas vezes vemos o reinado do Senhor quando tudo sai bem para nós… Ilusão; tentação diabólica! Nosso verdadeiro reinado, nossa real serviço, nossa inalienável dignidade é unir-se a Cristo no seu caminho de humilde serviço ao Evangelho, seguindo os passos do nosso Senhor: “Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11). Todas as vezes que esquecemos isso, fomos infiéis e indignos de reinar com Cristo. Houve tempos gloriosos na nossa história de Igreja de Cristo: já fomos perseguidos pelos romanos, já fomos perseguidos em tantos lugares da terra: já nos mataram, torturaram, pisaram, discriminaram… Houve tempos tristes: quando perseguimos, torturamos e discriminamos… pensando, assim, manifestar o Reino de Cristo! Que engano! Que ilusão!

Nós Adoramos hoje um Rei diferente a começar dos simboços da realeza: Seu trono A Cruz; sua Coroa de espinho; Sua veste real a nudes, enfim nosso Rei soberano passou pelo aniquilamento Kenotico(Fil 2,1s) Para ser exaltado acima de tudo e de todos e se quisermos reinar com ele para sempre não há outro caminho senão o da humildade despojamento e conformidade a vontade do Pai.

Deus  vos abençoe. Padre Josenilson Antonio

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